Champions League 2019/20 — Grupo A: as potências, um novo projeto e a diferença de patamares

Matheus Eduardo
9 min readSep 12, 2019

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Na próxima semana, se iniciará a fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA desta temporada. Como diferencial em relação a edições anteriores, a perspectiva para este ano é de uma competição ainda mais em aberto que a do ano anterior, em que vimos o Real Madrid perder a hegemonia e surpresas rodearem a fase mata-mata. Algumas delas seguirão enaltecidas durante a análise dos grupos por aqui.

O agrupamento que abre a lista traz dois dos reais candidatos a título europeu e, claro, os mais cotados a classificarem para as oitavas de final. No caso do Real Madrid, um favoritismo mais ligado à hierarquia do time e dos jogadores dentro da competição, mas uma série de dúvidas quanto à remontagem da equipe, o comando de Zinédine Zidane e o funcionamento dos novos jogadores, sobretudo com a chegada e adaptação de Eden Hazard — que, acredito, será um fator diferencial para resolver diversos jogos para sua equipe. Nos primeiros jogos do Campeonato Espanhol, sem o belga (lesionado), Gareth Bale e Karim Benzema deram as rédeas ao ataque e à produção da equipe. O galês, contudo, já sofre com problemas físicos e irregularidade nas atuações — em especial após a saída de Cristiano Ronaldo e o menor “suporte” na força ofensiva.

Para o Real Madrid, ao menos na primeira fase, a boa notícia é que não precisarão jogar “tudo o que podem” para garantir a classificação. Como na temporada passada, os confrontos trazem possibilidade de somar confiança e encontrar jogadores importantes e uma forma de jogo um pouco mais segura. Negativamente, o envelhecimento do elenco começa a se tornar uma questão alarmante a ser resolvida — e o mercado dos merengues não foi tão positivo nesse sentido — , com dúvidas quanto a possíveis sucessores aos meio-campistas (a volta de James, às pressas, e as possíveis improvisações com Federico Valverde, um meio-campista que possui limitações defensivas, escancaram isso) e muitos jogadores novos para conhecerem a dinâmica e o funcionamento do time — Ferland Mendy, Éder Militão, Luka Jovic e o não tão novo Alvaro Odriozola, especialmente.

Passado, presente e futuro do Real Madrid presentes e, em meio a eles, Zidane (e a gente) não sabe de que forma utilizá-los e se estarão juntos (Reprodução/AS)

Ademais, contratações pontuais, mas que levam tempo para funcionar e podem gerar dúvidas quanto ao funcionamento em campo: Ferland Mendy se dará bem com Eden Hazard na esquerda? Terá poucas chances em uma eventual recuperação do Marcelo? O Madrid jogará com uma dupla de ataque, como foi com Hazard na pré temporada, ou terá um trio e a dúvida sobre quem atuará aberto na direita? Como solucionar o problema da defesa e da transição defensiva desta equipe? De que forma seguir o processo evolutivo de Vinícius Jr., sabendo que Hazard será protagonista? Há muitas dúvidas e um time que, por mais que possua jogadores para resolver diversos tipos de partidas, ainda pode demorar a encontrar sua “melhor versão”. Os jogos contra o PSG ajudarão a dar uma noção maior do que precisa melhorar para a segunda metade de 2019/20 — quando, realmente, começa a Champions para as grandes potências.

O elenco do PSG se fortaleceu, mas o ponto mais animador é a permanência de Neymar e Mbappé (Foto: Reuters)

Em Paris, dificilmente veremos algo muito reluzente nas primeiras partidas da temporada. Como ponto positivo, Neymar e Mbappé estarão com o PSG por mais um ano e, como estes determinam o sistema de um time, fazem total diferença no decorrer do ano — estando à disposição, é claro, especialmente jogando juntos. Para a estreia, nenhum deles atuará; Neymar está suspenso por três jogos e o atacante francês está lesionado. Das muitas improvisações e adaptações de Thomas Tuchel, as primeiras semanas na Champions também trarão “arranjos” e a chance de ver, com maior cobrança, as tantas novidades no elenco.

É claro que o Paris trabalhou em uma janela para solucionar uma série de pequenos problemas que possuiu na última temporada: desde o elenco muito limitado em quantidade de opções até os suprimentos defensivos — sobretudo Keylor Navas (tricampeão europeu), Idrissa Gana Gueyé e Abdou Diallo como proteções nítidas a um sistema falho e que deixou a desejar em quase todos os jogos grandes de 2019. A perda de Daniel Alves deixa exposto um problema/desafio do clube na competição: falta hierarquia, conhecer o campeonato. A qualidade está aí — os jogos de primeira fase diante de Bayern (17/18), Napoli e Liverpool (18/19) deixaram isso nítido. Mas falta se preparar, garantir o que é necessário para competir na elite. O PSG tem um elenco candidato a título, mas não passa a impressão de que pode deixar uma grande atuação na parte “importante” da UCL, com as eliminatórias.

Tratando dos jogadores, é imaginável um ano de crescimento individual para Marquinhos como zagueiro, já que o mercado do PSG permite que o brasileiro agora possa jogar mais vezes atrás, e é a posição que precisa mostrar mais autoridade — e Thiago Silva está envelhecendo; Marco Verratti terá ainda mais apoio e menos sobrecarga agora — seu maior vilão será a série de lesões de sempre. Também um ano para o time mostrar soluções para a limitação nas suas laterais — o elo mais fraco da equipe — e como retomar o jogo em torno de Neymar (após os problemas extra-campo e a nítida intenção de reaproveitar o melhor futebol do brasileiro nesta temporada). Além disso, a dúvida com Icardi neste sistema, embora tenha potencial e características para garantir gols — mas não é como Cavani para jogar saindo da área. De modo geral, um time mais seguro (com e sem a bola) e um elenco numeroso para garantir as vitórias na França (e não perder nem as copas nacionais, como aconteceu no último ano) e sobrar “energia” para a Champions. Podem fazer mais durante a temporada, e este grupo passa a impressão de que pode fazer ano digno na competição. Com um bom encaixe, podem até liderar o grupo outra vez — como aconteceu nos dois anos com Neymar-Mbappé na equipe.

As contratações de impacto (na imagem, Falcao Garcia e Mario Lemina) dizem mais que o próprio time do Galatasaray até aqui. Desafio será encaixar tantos jogadores que chegaram de última hora

Certamente, o Galatasaray foi um dos times que mais causou impacto na última janela de transferências, se desconsiderarmos quem está nas cinco grandes ligas europeias. O atual campeão turco remodelou seu meio-campo e o sistema ofensivo, enquanto manteve a base na linha de defesa do último ano — Mariano e Yuto Nagatomo nas laterais, com o brasileiro Marcão Teixeira (rápidas passagens por Athlético/PR e Atlético/GO no Brasil e sucesso no futebol português) e o congolês Christian Luyindama. Apesar disso, é uma equipe muito recente e com alguns problemas aparentes na sua “consolidação”.

A dupla de zaga chegou no meio da temporada passada, e parte das referências ofensivas não fez nem três jogos pelo clube — Steven N’Zonzi, Mario Lemina, Jean Michael Seri, Falcao Garcia, Ryan Babel, Emre Mor e Florín Andone, todos chegaram durante ou depois da pré-temporada do clube. Fatih Terim variou entre o 4–2–3–1 (antes da chegada de N’Zonzi) e o 4–3–3 (após a entrada do francês no time titular), mas ainda há muitos problemas em manter a posse de bola e em trabalhar as individualidades dos jogadores de frente. Em momentos, até o argelino Sofiane Feghouli chegou a atuar por dentro — em uma função que geralmente vemos o meia marroquino Younes Belhanda fazer.

Como há muitas incógnitas quanto ao jogo do Galatasaray — será o time com maiores descobertas durante a fase de grupos, ao que se imagina — , é difícil imaginar que sejam tão competitivos de início. Garantem uma cota de gols com Falcao Garcia “saudável”, porque é um centroavante que conhece a competição, e também alguma qualidade com Babel, Feghouli, Belhanda e Mor (a aposta maior) no conjunto. Mas é uma equipe ainda insegura na defesa — sofreu gol nos três jogos desta temporada no Campeonato Turco — , não consegue manter a bola longe da sua área por muito tempo, deixa espaços nos contra-ataques adversários — imaginem isso diante de um Mbappé ou de um Hazard — e traz jogadores que estiveram em baixa no último ano — especialmente os meio-campistas.

Além de tudo, o histórico dos times turcos nas últimas edições de Champions League não é dos mais animadores, e o próprio Galatasaray faz parte disso. No ano passado, teve dificuldades em um grupo bem mais acessível (fechou em 3º), e agora não passa muito otimismo com uma equipe chamativa, mas que foi montada às pressas.

O Brugge surpreendeu o Monaco e conseguiu o 3º lugar na fase de grupos da edição passada da Champions League. Neste ano, e sem alguns dos jogadores do ano passado, os belgas tentam surpreender outra vez (Reprodução/UEFA)

Vice-campeão belga em 2018/19, o Club Brugge já está acostumado a jogar a Champions. A equipe treinada por Philippe Clement traz uma perspectiva diferente da apresentada pelas outras do grupo, seja no patamar ou na capacidade de surpreender como uma potencial terceira força.

A janela de transferências do Brugge trouxe perdas consideráveis e chegadas surpreendentes. Os belgas viram jogadores importantes rumarem a ligas maiores na Europa: o meia Sofiane Amrabat, indo para o Verona (ITA), por exemplo, como uma das saídas mais chamativas; o zagueiro holandês Stefano Denswil para o Bologna — cresceu muito na Bélgica depois de anos decepcionantes no Ajax; o atacante Wesley, jogador mais promissor do elenco e dos mais efetivos no futebol belga — agora no Aston Villa, bem como o também ex-atacante do Brugge, Marvelous Nakamba.

Nesse desmanche, foi necessária a chegada de jogadores razoáveis para manter a competitividade. O mais “midiático” entre os que chegaram é o goleiro ex-Liverpool, Simon Mignolet, que voltará a ter ritmo de jogo em seu país natal. O promissor ponta sul-africano Percy Tau — emprestado pelo Brighton — foi outro nome importante e que pode ter impacto positivo por ser capaz de aproveitar grandes espaços para gerar perigo; e o zagueiro/volante Éder Álvarez Balanta, ex-Basel e River, também pode gerar impacto positivo: se tornou meio-campista nos últimos meses na Suíça, e é um jogador de muita intensidade física, boa marcação e boa chegada no jogo aéreo. Deve ser meio-campista na Bélgica também.

O Brugge é um time que, além dessas contratações, trabalha muito em um ataque posicional (seja em 4–3–3 ou em 4–2–3–1), com o destaque Hans Vanaken — usou a 10 da Bélgica na última Data FIFA, na ausência de Eden Hazard — como o “interior” ou o “10” para chegar e conectar-se com os atacantes. Também merecem destaque o meia Ruud Vormer — recentemente convocado para a seleção holandesa — , as projeções do lateral-direito angolano Clinton Mata e o recém-contratado (e ex-Galatasaray) Mbaye Diagne para ser o centroavante do time — deixou 30 gols em 29 jogos no último Campeonato Turco. Olho.

E, claro, ele pode aprontar com a conhecida “Lei do Ex”.

De qualquer forma, o grupo deixa um resumo claro de que Real Madrid e PSG são os francos favoritos à classificação, restando ver qual deles apresentará algum crescimento nesta temporada após fecharem 2018/19 em baixa e com uma série de problemas envolvendo comando técnico e/ou jogadores. Um Galatasaray cheio de novidades que, mesmo tendo vantagem no material humano, pode ter dificuldade em uma eventual disputa de 3º lugar com o Brugge — estrutura mais consolidada — e, a menos que haja uma grande surpresa, uma fase para vermos as individualidades dos atletas se manifestando bastante — sobretudo no segundo turno, com Hazard, Mbappé e Neymar à disposição para jogo.

Este é o primeiro dos oito posts sobre os grupos desta edição da Champions League, com rápidos — ou nem tanto — comentários sobre o que esperar de cada time e perspectivas gerais.

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Matheus Eduardo

Raramente (mas não nunca) posto algumas ideias aqui. A intenção é fazer essas leituras valerem a pena. Futebol em todos os sentidos possíveis.