Como foi a temporada de cada equipe na Premier League 2018/19?

Matheus Eduardo
21 min readMay 16, 2019

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Em dezembro, fiz uma thread no Twitter sobre o 1º turno da Premier League [o tweet estará logo abaixo]. Agora, falarei sobre todo o campeonato e o que mudou de lá pra cá. Com um pouco de atraso, já que o torneio acabou há quatro dias. Este texto também está no twitter em forma de thread. Se quiser acompanhar por lá, é só seguir o fio.

Thread sobre o 1º turno da Premier League aqui

De início, destaco que muito do que eu imaginava em dezembro realmente aconteceu: City e Liverpool na disputa do título, Tottenham oscilando pelos desfalques, alguns médios sentindo o peso da liga, reações em equipes lá embaixo. Agora, vamos à análise geral. Prepare-se porque há detalhes sobre todas as equipes.

Antes de começar, duas coisas:

1. “Big six” será uma expressão muito utilizada aqui: se refere aos seis times mais fortes da liga: Manchester City, Manchester United, Arsenal, Chelsea, Tottenham e Liverpool;

2. Se preferirem, podem “pular” para os times de preferência, porque estão listados em tópicos e de acordo com a colocação na tabela. À frente, surgem outros tópicos, como a seleção da temporada, o melhor jogador e as observações sobre a liga.

Manchester City — 98 pontos

Os três maiores destaques ofensivos do City na temporada conseguiram suprir a ausência de Kevin De Bruyne em boa parte da competição. Mesmo sem o belga, o clube faturou mais um campeonato (Foto: Phil Noble/Reuters)

18 vitórias em 19 jogos no turno. Além da reação espetacular e de ser o único a vencer o Liverpool nesta Premier League, fantástico o trabalho do elenco ao encontrar soluções nas partidas, até com mais variedade que no ano passado. Não precisaram tanto do De Bruyne.

Os três da foto acima — Agüero, Sterling e Bernardo Silva — , juntos com Laporte, foram os melhores do time na temporada. Pep é um especialista em pontos corridos e encontrou a melhor forma de tornar o City letal em quase todas as partidas. Melhor equilíbrio defensivo (20 jogos sem sofrer gols) e Agüero nos jogos grandes — hat-tricks contra Arsenal e Chelsea, além de ter marcado contra todos os times do big six na temporada.

Em muito, um título que veio após vencerem quase todos os jogos do turno, tirarem uma diferença de sete pontos para o Liverpool (em dezembro), vencê-los em confronto direto, e uma prova de que Pep tornou este City dominante no país. Venceram o melhor Liverpool do século (semanalmente).

2º Liverpool — 97 pontos

Klopp fez sua melhor temporada no comando do Liverpool e, ainda assim, não foi o suficiente para tirar o clube da fila na Premier League (Foto: PA)

A melhor campanha de um vice-campeão na história dos pontos corridos — era moderna da Premier League — na Inglaterra. A melhor campanha do Liverpool em sua história não deu em título. Apesar disso, grande ano para Klopp e jogadores, e uma leve oscilação que tirou a perfeição do ano.

Não consigo ver muitas críticas ao ano do Liverpool: poderia até ter feito mais, mas foi além da capacidade inicial do grupo, movido pela “exigência” que Guardiola impôs com os 100 pontos do ano passado. Um elenco que se superou em quase todos os jogos e levou a disputa até o final.

Na campanha, muita hierarquia diante dos adversários mais frágeis (venceu todos os jogos contra os que estiveram do 10º lugar para baixo na tabela), mas uma série de empates em fevereiro ou a derrota para o City (única no torneio) pesaram para o título não vir. De modo geral, jogadores potencializados e grande ano para o time — além da final de Liga dos Campeões a disputar.

Um Liverpool fortíssimo com seus laterais: Alexander-Arnold deu 12 assistências na liga, além de outras 11 do Robertson. Além disso, um melhor domínio com a posse de bola (ainda que pressionando pior que ano passado), o foco do ataque dividido em Mané e Salah, e uma defesa estruturada. Grandes Alisson, Matip e van Dijk nesse aspecto — responsáveis direto para que os Reds terminassem a temporada com a melhor defesa (22 gols sofridos e 21 partidas sem sofrer gols) do campeonato.

3º Chelsea — 72 pontos

Eden Hazard foi o jogador com maior desequilíbrio individual dessa Premier League. O belga foi responsável direto pela classificação do Chelsea para a próxima Liga dos Campeões da UEFA (Foto: Sky Sports/Reprodução)

Nem ao céu, nem ao inferno. O terceiro lugar foi uma boa colocação para mostrar que o trabalho do Sarri merece continuidade. Foi um ano oscilante, mas que pôde ter até um “final feliz” devido ao diferencial do Hazard. No mais, houve sérios problemas de adaptação ao jogo de posição, algo diferente do que já havia sido implantado no Chelsea em anos anteriores.

Também destaco algumas dificuldades do italiano em ser mais maleável com o elenco, um contraponto entre as ideias de jogo e os atletas disponíveis para colocar em prática. Incompatibilidade em quem veio para somar ou quem já estava no elenco e poderia acrescentar qualidades: Kovacic, Higuaín, Alonso e Willian são os maiores exemplos. Também por esses problemas, o time acabou ofuscado pelas potências que disputaram o título até o fim.

Até mesmo seus melhores jogadores oscilaram porque foi um ano de novidades no Chelsea. A continuação do projeto acena para melhorias, sabendo o que consertar. No fim, o 3º lugar acabou como algo positivo, em vista da distância para Liverpool e City. O 0 x 6 para os campeões mostrou isso.

4º Tottenham — 71 pontos

Eriksen foi, possivelmente, o melhor jogador do Tottenham nesta Premier League. Além disso, o destaque foi um time que se superou em meio aos remendos em boa parte do ano (Foto: Mike Hewitt/Getty Images)

Tendo Eriksen como, possivelmente, o melhor jogador da equipe na liga, o Tottenham talvez tenha sido a equipe mais batalhadora da Inglaterra na temporada. Foram MUITOS os problemas de desfalque, superações e resultados surpreendentes, para o bem e para o mal.

Começou o turno na frente do City, mas já deixava a clara impressão de que seria superado, e que sua luta seria mesmo para manter o 3º lugar. No fim, não conseguiu, especialmente pelo peso que foi a Liga dos Campeões simultaneamente. Perdeu Kane e seguiu no esforço. Muitas derrotas no caminho.

Pesou para o Tottenham não conseguir se impôr nos confrontos diretos: 4 derrotas e 1 empate nos jogos contra equipes do big six no turno. Foi uma das causas para que Arsenal e Chelsea se aproximassem. Uma série de um ponto conquistado de 15 disputados também… não havia força para o ano todo.

Pochettino foi bem ao encontrar soluções para resistir, seguir entre os quatro primeiros na tabela e sobreviver na Champions. No caminho, quase todos os jogadores do elenco foram desfalque em algum momento. Jogaram em tudo que é forma (4–3–1–2 e 3–4–3/3–5–2 em destaque). Não havia como esperar mais de um elenco desgastado fisicamente

Como conclusão, diria que o desgaste (físico e mental) também pesou em derrotas para equipes mais fracas, como a surpreendente para o Burnley. Missão devia ser mesmo garantir a vaga na próxima Champions, e isso conseguiram. Além de soluções pontuais, como Sissoko e Lucas.

5º Arsenal — 70 pontos

A dupla Lacazette-Aubameyang foi o ponto mais positivo do Arsenal na temporada (Foto: Getty Images)

Desde o fim do 1º turno, o Arsenal deixava a impressão de que lutaria por uma vaga na Liga dos Campeões via liga. Chegaram quase até o final em vista disso, mas a oscilação nas últimas rodadas atrapalhou. Também pesou a falta de um meia em nível — Özil abaixo e lesão do Ramsey na reta final da temporada — e os erros do zagueiro Mustafi em partidas importantes.

Ficou bem nítido que este Arsenal não tem armas para lutar por título, e que sua luta era mesmo onde esteve. Esperava mais no turno, mas não dá para cobrar muito a mais de um time que sentiu falta de um meia (Özil fez péssimo ano) e perdeu Bellerín cedo demais. O ataque foi o colírio: Aubameyang como um dos artilheiros da Premier League (22 gols) e Lacazette excelente dominando o jogo e participando dos gols (13 gols e 8 assistências).

Gradativamente, sinto que Unai Emery começou a dar mais competitividade ao Arsenal em jogos maiores, e vimos que é uma equipe capaz de crescer em situações difíceis (vitórias contra Chelsea e United comprovaram). Mas falta domínio. E, claro, a defesa nunca passa confiança…

Como positivo: Aubameyang-Lacazette é o que vimos funcionar melhor, e o Arsenal em 3–5–2 pode ser uma saída (Kolasinac também se saiu bem assim) Como negativo: no meio-defesa, há oscilações demais, e esperava um ano melhor para Xhaka e Torreira, por exemplo. Defeito em uma liga, que exige regularidade e força por um ano inteiro.

6º Manchester United — 66 pontos

Imagem de desolação foi comum em jogos do Manchester United na temporada, sob o comando de José Mourinho ou de Ole Gunnar Solskjaer

O fato de o United não ter conseguido nenhuma vitória nos 6 jogos finais da temporada, ou de engatar uma série de partidas tão ruins há algumas semanas já mostra todas as limitações deste time. Poderia ter sido até pior sem aquele “up” pós-Solskjaer — entre dezembro e fevereiro.

Temporada muito melancólica, que teve um fio de esperança a partir da solução que Solskjaer buscou em liberar Pogba e dar mais confiança aos jogadores. Claro, não foi muito além disso na parte tática, e o time seguiu com problemas sérios de velocidade e defesa (54 gols sofridos nessa Premier League).

Problemas em todos os setores: desde o De Gea mais falho até o ataque pouco inventivo (só Rashford se sobressaiu em momentos), uma equipe lenta e que se desconcentrava com facilidade nos jogos. Começava bem os jogos, mas caía o ritmo e desmoronava. Imagem comum nas partidas.

E, claro, nem o melhor Pogba poderia suprir tantos problemas. Alerta para ajustar melhor a equipe e para remontagem no elenco na próxima temporada. O United precisará de tempo para voltar à elite. 32 pontos a menos que o campeão. Ano de queda/choque para muitos jogadores, sobretudo Alexis Sánchez.

7º Wolverhampton — 57 pontos

Os lobos foram, com méritos, os melhores na Premier League depois das equipes do big six. Além disso, ganharam a fama de “Robin Hood” por tirarem tantos pontos dos times mais fortes da Premier League (Foto: Wolverhampton Wanderers FC/Reprodução)

Com justiça, o melhor time fora do big six: não só por ter conseguido tantos pontos contra os grandes, mas por ter um projeto firme e um time competitivo durante o ano. Desde a mudança do 3–4–3 para o 3–5–2, uma equipe mais estruturada também.

Trabalho sério de Nuno Espírito Santo desde a campanha do acesso, ainda na temporada passada. Poucos ajustes no elenco para esta temporada, e pilares que foram importantes em jogos difíceis. Os maiores: Doherty, Ruben Neves, Moutinho, Raúl Jiménez e o goleiro Rui Patrício.

Além da fama de “Robin Hood” (venceu United, Tottenham e Chelsea, além de empatar com City e Arsenal), passou a ser dominante no turno, mas perdeu pontos bobos no caminho (como as duas derrotas para o Huddersfield). Contudo, muita força nas transições e possibilidade de disputarem Liga Europa na próxima temporada — basta que o City vença a FA Cup.

Um dos times mais fortes em bola parada e finalizações de média/longa distância do campeonato devido aos portugueses de meio, e com o melhor centroavante da competição fora da elite. Pouco comentado que possui bons reservas a médio prazo: Adama Traoré, Gibbs-White, Saïss… Veremos ano que vem.

8º Everton — 54 pontos

Sigurdsson foi o artilheiro e o líder de assistências do Everton na Premier League. Simboliza as ideias do treinador em muitos aspectos, e foi importante em jogos grandes para o time na temporada

Oscilou em todo o campeonato, quando deixava uma impressão inicial de que seria o melhor time fora do big six. No fim, o técnico Marco Silva ainda conseguiu retomar parte do prestígio dos primeiros meses e flertaram com o sonho da Liga Europa. Porém, muito a melhorar.

Muitas dúvidas e mudanças durante o ano: Richarlison é 9 ou ponta? Melhor o time em 3–4–3 com os zagueiros que saem para marcar ou em 4–2–3–1 com os laterais e pontas coordenando entre si? No mais, um time de muito jogo pelos lados e agressividade. Bom ano do goleiro Pickford.

Também noto um processo de rejuvenescimento do grupo e destaques mais jovens (ou menos velhos) no XI: Zouma, Digne, André Gomes, Richarlison, Calvert-Lewin. O último se tornou um 9, que ganhou espaço na reta final e parece ser um “gatilho” para ajudar quem vem de trás.

No finalzinho da temporada, a goleada sobre o United e a vitória sobre o Chelsea acenaram para algo positivo no próximo ano. Ainda parece um time limitado, que não encontra tantas soluções quando o jogo está equilibrado, mas possui margem para crescer. Precisará de outra boa janela de transferências para se qualificar.

Em tempo: Walcott foi minha decepção do ano no Everton. O de outras épocas seria uma solução pensando em gols. Sigurdsson, por outro lado, parece ser um jogador-chave quando possui maior protagonismo — 13 gols (empatado com Richarlison na artilharia do clube) e 6 assistências no campeonato. E é um monstro nas bolas paradas. Os primeiros nomes importantes, Marco Silva já tem.

9º Leicester — 52 pontos (SG +3)

Chegada de Brendan Rodgers e as boas atuações de Vardy na reta final foram importantes para que o Leicester sonhasse com uma vaga em Liga Europa nas últimas rodadas (Foto: Diário Sport/Reprodução)

Melhorou bastante com algo que eu já havia falado na análise do 1º turno: o melhor Vardy rendeu pontos ao time. Uma série de gols nas rodadas finais, vitórias improváveis (como o 3 x 0 no Arsenal) e Brendan Rodgers engatando bom início no clube

No mais, um Leicester ajustado com seus principais jogadores em evidência e um grande ano de James Maddison atuando como meio-campista (de 10 ou interior). Apesar de não ser bem o que Rodgers faz, esteve bem o time se defendendo e reagindo. Quase empatou com o Manchester City no Etihad assim.

Se pegarmos ainda a “Era Puel”, ainda há resultados importantes, como a sobrevivência diante do Liverpool em Anfield. Apesar disso, pesou contra ter perdido confrontos diretos para Wolverhampton e Watford.

Assim como o Liverpool, o Leicester também teve seus dois laterais em evidência neste ano: Ricardo Pereira foi um dos melhores estreantes da Premier League na temporada, e é importante destacar como são bons no apoio ele e Chilwell. Certamente, veremos clubes mais poderosos atrás deles na próxima janela. E, claro, Rodgers parece estar no patamar ideal pra provar seu valor.

10º West Ham — 52 pontos (SG -3)

West Ham fez muitas contratações de impacto, mas dois nomes que já estavam no grupo se mostraram importantes no 2º turno: Lanzini e Arnautovic. Suas ausências em partes do torneio mudaram o rumo do time (Foto: Zimbio)

Outra equipe oscilante e que, bem como o Tottenham, passou por alguns problemas de ausências que modificaram o andamento do time no torneio. As principais: Arnautovic, Lanzini e, também, Nasri. Na reta final, os dois primeiros aí decidiram partidas.

O problema principal do West Ham na temporada talvez tenha sido a falta de força para se impor nos confrontos diretos, e porque era uma defesa frágil (Fabianski foi destaque nas defesas difíceis). A ausência de Balbuena ou Diop na zaga em parte da temporada piorou isso.

Por outro lado, é um elenco com opções ofensivas que solucionam diferentes tipos de problema, especialmente em jogos menores: Felipe Anderson (talvez o melhor jogador do time na temporada), Lanzini, Arnautovic, Nasri, Chicharito, Snodgrass, Antonio — e ainda os quase sempre ausentes Wilshere e Yarmolenko. Geram gols de qualquer forma.

O West Ham é aquele grupo de jogadores qualificados, mas que não geram aquele “boom” com um grande time. É algo mediano, e só. Foi o problema pensando em vaga em UEL. Muito irregular. Ao menos venceu jogos menores e não chegou perto do rebaixamento. É outro conjunto que pode crescer.

E, claro, não poderia esquecer dois destaques do time no campeonato: o jovem Declan Rice, que fez um 1º turno melhor que o 2º, mas foi um dos melhores volantes do torneio. E o lateral Fredericks, especialmente com ações defensivas. Pode fazer bem mais o West Ham com este elenco.

11º Watford — 50 pontos

Deulofeu foi um dos principais jogadores enaltecidos por Javi Gracia. Foi valente o Watford em toda a temporada (Foto: PA)

Fez campanha para muito mais que um 11º lugar. Atuações de coragem e certo equilíbrio nos jogos grandes, partidas de superação, um time estruturado e com boa pressão no campo de ataque, bons apoios dos laterais, uma ótima dupla Capoue-Doucouré no meio…

Sabem aquilo de “em um jogo, detalhes fazem a diferença”? É o que pegou o Watford em boa parte dos jogos: um ritmo impressionante, seja em jogos contra grandes ou pequenos, até algumas atuações interessantes (como o hat-trick do Deulofeu e goleada de 5 x 1 no Cardiff)…

Nos jogos contra os grandes, sempre perdendo nos detalhes. No 2º turno, sobretudo, o Watford perdeu pontos contra quase todos os adversários diretos e de big six: dos 10 primeiros, foram 8 derrotas, quase sempre por pouco. Mais imagens positivas que resultados positivos, afinal.

Destaques positivos aos volantes: Capoue no desarme e no passe; Doucouré seguindo com pulmão para ir e voltar, deixando gols… o jogo ofensivo dos laterais: Kiko Femenía e Masina, especialmente. Deeney como um centroavante que complementou Deulofeu. E a queda do Pereyra como algo negativo.

Se serve como consolo, o Watford ainda tem a chance de se garantir na Liga Europa caso bata o City na final da FA Cup. Pode ser um final nobre para uma equipe que lutou e chegou no seu limite em diversos momentos na temporada. É bom o trabalho do técnico Javi Gracia.

12º Crystal Palace — 49 pontos

Os gols de pênalti de Milivojevic foram marca registrada do Palace na competição. O sérvio ficou a um de igualar o recorde histórico em uma só edição (Foto: Crystal Palace FC/Reprodução)

Não foi, necessariamente, um time organizado, mas somou muitos pontos na segunda metade do campeonato. Se considerarmos o que era o Palace até dezembro e o que foi a partir dali, uma reação impressionante. Era time cotado a cair e ficou “perto” da classificação para a Liga Europa.

A imagem de Milivojevic cobrando pênalti é icônica: foram 10 gols dele marcados dessa forma. Alguns comportamentos padrões em jogos do Palace: Guaita fazendo muitas defesas, Zaha monstruoso conduzindo a bola em velocidade, um forte lado esquerdo com os rápidos van Aanholt e Schlupp, e o sérvio marcando de pênalti. Roteiro da temporada.

Em destaque a temporada de estreia de Guaita e Wan-Bissaka na Premier League. O goleiro espanhol como um dos melhores fora do big-six e o lateral-direito inglês como destaque defensivo (desarmes) e ofensivo (drible e aceleração). No mais, uma equipe com algumas individualidades também.

Em meio a um ano péssimo do Benteke, a chegada do Batshuayi na metade final da temporada ajudou muito para aumentar a cota de gols. Por outro lado, menor impacto no grande investimento do ano (Max Meyer) em um time muito acelerado. Nesse “mix”, boas vitórias (Arsenal e Manchester City fora, por exemplo).

No complemento: muitas vitórias contra adversários de confronto direto livraram o Palace do rebaixamento cedo. Não é dos times mais elaborados, mas chegou a dar trabalho para muita equipe estruturada na liga. Imprevisível o que pode ser esta equipe temporada que vem.

13º Newcastle — 45 pontos (SG -6)

O Newcastle da luta e dos contra-ataques + bolas aéreas reagiu, mais uma vez, no 2º turno

Em resposta aos times mais fortes da liga, que naturalmente, detêm posse de bola, o Newcastle foi perigoso reagindo aos rivais e acionando os atacantes. Na reta final, muitos gols do Ayoze, inclusive. Foram os únicos a bater o Manchester City no 2º turno.

Quase sempre como uma equipe que joga em 5–4–1 esperando o adversário no próprio campo, mas forte no jogo dos alas e mais efetivo com a bola a partir da contratação de Miguel Almirón, o Newcastle reagiu na metade final do campeonato. Foi assim temporada passada também. Ao estilo de Rafa Benítez.

Rondón dominando a área e se tornando uma ameaça aos defensores adversários foi uma entidade nesses momentos. Uma das equipes mais físicas do campeonato e um ano muito brilhante do zagueiro suíço Schär dominando ações defensivas. Bem o goleiro Dubravka também.

Fez falta ao Newcastle ter melhores opções ofensivas para um melhor repertório no ataque também (a chegada do Almirón já melhorou bastante isso). Outra coisa ruim foram os poucos pontos no 1º turno. Se salvou especialmente pelas vitórias em casa (confrontos diretos) no 2º turno.

14º Bournemouth — 45 pontos (SG -14)

Callum Wilson e Ryan Fraser foram os expoentes do time nos quesitos gol e assistência. Números muito bons em um time nem sempre equilibrado (Foto: Talksport/Reprodução)

Decepção do 2º turno pelas partidas irregulares, as poucas vitórias e, esporadicamente, jogos espetaculares, como as goleadas sobre Chelsea (4 x 0) e Brighton (5 x 0). Nesses momentos, víamos o melhor de um time rápido nas transições e com muita velocidade.

Apenas 19 pontos no turno. Apesar disso, o melhor ataque do campeonato fora do big six, e com dois expoentes: Callum Wilson (14 gols e 9 assistências) e Ryan Fraser (7 gols e 14 assistências — vice líder em passes para gol na competição, perdendo apenas para Eden Hazard), por meio de bola parada, cruzamentos e escapadas em velocidade. Mas sérios problemas defendendo.

Goleadas sofridas para quase todos os times do big six e 70 gols sofridos no campeonato — só Fulham e Huddersfield levaram mais. Problemas defensivos fortes, goleiros que não transmitiam segurança (péssima temporada de Begovic, e Boruc mais velho e longe da melhor fase)… difícil competir melhor assim.

Enquanto o 1º turno foi mais organizado coletivamente, o 2º foi mais centrado em individualidades e alguns jogos esporádicos com sucesso. Eddie Howe na Premier League por mais um ano era o mínimo que poderíamos esperar.

15º Burnley — 40 pontos

O retorno de Tom Heaton — machucado durante o primeiro turno — foi essencial para que o Burnley se recuperasse na tabela e escapasse do rebaixamento (Foto: Getty Images)

28 pontos no turno e uma boa reação, apesar de não ter ficado tão longe assim da degola. De grande decepção da metade inicial do torneio para grandes jogos na parte final. Venceu os principais adversários diretos contra rebaixamento e até o Tottenham.

O retorno do goleiro Heaton foi chave na reação, ainda mais em vista da insegura temporada de Joe Hart e os tantos gols sofridos e derrotas nos primeiros meses de 2018/19. Vimos um pouco do que era o Burnley do ano passado — quando foi 7º colocado — defendendo-se e reagindo em jogo direto.

Bons meses da dupla de zaga Mee-Tarkowski e do ataque com Barnes-Wood, como na temporada passada. Um remember daquele time já foi o suficiente para garantir a permanência na Premier League. Com muita bola aérea, lançamentos e disputas pelo alto. Isto é o time de Sean Dyche.

Nesse tempo, um destaque ao jovem Dwight McNeil como revelação na metade final da temporada, sendo um perigo aberto no lado esquerdo: um tipo de talento que o Burnley não tinha. Dá para dizer que foi o time de jogo direto que se deu melhor no campeonato, depois do Newcastle.

16º Southampton — 39 pontos

Ruim com ele, pior sem ele: Rasenhüttl conseguiu, a duras penas, salvar o Southampton do rebaixamento. Mas ainda há muito a melhorar e renovar no time

Ano ruim para o So’ton, mesmo depois de respirar com a chegada do técnico Ralph Hasenhüttl. Por pouco, não caem. Reta final ruim e um time desgastado. Parece um claro momento de renovação no St. Mary’s para o próximo ano.

Difícil falar sobre o time quando há pouco padrão nos jogos, mas a reta final trouxe alguns destaque individuais e jogadores que podem ser melhores, especialmente na parte ofensiva: Hojbjerg, Ward-Prowse e Redmond. São alguns dos valores ainda existentes neste elenco.

Até pelas características dos jogadores, vimos alguns gols e chances criadas em finalizações de média/longa distância e um Ward-Prowse protagonista no único momento bom do time no campeonato. Embora os zagueiros tenham trabalhado, é um time que não passa tanta segurança defensiva — ainda que tenha feito algumas partidas boas nesse sentido.

No mais, parece haver o mesmo problema do fim do 1º turno: um time bastante desmotivado e que precisa se reformular. Acredito no trabalho do Hasenhüttl, e penso que pode ser uma equipe mais desafiadora e agressiva no ano que vem.

17º Brighton — 36 pontos

Ano complicado para Chris Hughton e um time sem muito brilho

Já faz algum tempo que o trabalho do técnico Chris Hughton não parece algo confiável, e o 2º turno sintetizou isso. Muitas derrotas (não vencem um jogo há 2 meses), uma defesa fácil de superar e muita dificuldade de chegar ao gol sem a eficiência do meia Pascal Gross — um dos líderes de assistência da edição passada da Premier League, mas pouco produtivo nessa.

Problemas sérios em um time que quase não cria chances nos jogos (é quem menos finalizou no alvo, por jogo, nessa edição) e não é eficaz no jogo direto ou explorando as individualidades dos jogadores. Não dá para destacar algum meia ou atacante que fez bom 2018/19 aí.

Até pela natureza do seu jogo e por tender a lançamentos e disputas na área, o único que se sobressaiu um pouco foi o Glenn Murray (fez gol contra o City na rodada final e foi o artilheiro do time na temporada). Mas muitas perdas e desperdício de talento. Jahanbakhsh que o diga.

Contratam o melhor ponta do último campeonato holandês (Jahabakhsh), já contavam com um especialista em bola parada (Gross), outros talentos conduzindo bola e/ou chegando ao ataque (Bernardo, Knockaert, Kayal, Izquierdo, March), mas não potencializam isso? Além de tudo, um time sem muita identidade.

Ano para esquecer no Brighton. E, ainda assim, chegaram às semifinais da FA Cup. Imagino um desmanche no elenco para o próximo ano. Como únicos brilhos: Bernardo como lateral-esquerdo promissor e a festa de despedida para o lateral-direito Bruno Saltor — se aposentou — na rodada final.

18º Cardiff City — 34 pontos

O “arcaico” Cardiff de Neil Warnock contou com algumas exibições mais trabalhosas do goleiro Neil Etheridge para ter a pele salva. No fim, o rebaixamento se tornou inevitável (Foto: The Independent/Reprodução)

A tendência já levava a um provável rebaixamento. Foi, provavelmente, o elenco menos qualificado desta Premier League e muito limitado ao jogo direto e à exigência alta ao seu goleiro em todos os jogos — vimos grandes atuações de Etheridge nesse sentido.

Além das intervenções dos zagueiros e as tantas bolas aéreas e chutões/lançamentos, vimos pouco nos jogos do Cardiff. Em momentos, aposta na velocidade dos pontas (Mendez-Lainz jogando bem nas últimas rodadas), mas pouco para sobreviver na Premier League.

Pouco para falar, e o problema do 1º turno se agravou: Neil Warnock não conseguiu aproveitar seus jogadores mais qualificados no meio (Harry Arter e Victor Camarasa), num contraponto com a forma de jogo da equipe. O resultado: pouca produtividade e poucos pontos. Ainda lutaram bastante…

Opinião: se não houvesse aquela tragédia com o Sala, poderia ter sido um jogador importantíssimo para uma hipotética reação do Cardiff. Acho até que uma dupla com ele e Niasse seria uma boa solução.

19º Fulham — 26 pontos

A discussão desta imagem — Kamara e Mitrovic brigando entre si para ver quem cobraria o pênalti, ainda na “Era Ranieri” — simboliza a falta de estrutura do Fulham na temporada. Mesmo com um elenco caro e boas contratações, pesando nível individual, uma bagunça na parte coletiva (Foto: Talksport/Reprodução)

O pior projeto de um time na Europa nesta temporada teve um turno tão assustador quanto o inicial: três treinadores e nenhuma definição no seu jogo durante o ano. Muitos atletas de qualidade, mas nenhum acerto em como aproveitar a maioria deles. Rebaixamento.

Desde as tentativas propondo jogo e trabalhando posse (Jokanovic) ao modo mais pragmático (Ranieri) e o remendo com o que restou (Parker), muitos problemas. Muitos. E, de quebra, a pior defesa das 5 grandes ligas: 81 gols sofridos. Com um elenco caríssimo em mãos e zero motivação.

O pior talvez tenha sido apostar em muitos jogadores que estavam em baixa, mas com a vontade de retomar a carreira, e isso ter piorado tudo. Durante o ano, a perda de crença na forma de jogar e, por fim, o “modo espera” para que o ano acabasse e o rebaixamento viesse.

Impossível sonhar com algo positivo tendo um grupo desacreditado, que não sabe como trabalhar, no que seguir, e diante de sérios problemas coletivos. A cada jogo, sabíamos que o Fulham cederia aos rivais, e quase sempre foi assim. Atuaram melhor sem o peso, já rebaixados.

É complicado até destacar como a equipe atuava porque mudou bastante de um técnico para o outro. Mas vimos alguma coisa de positivo ainda: os primeiros jogos do Schürrle, um Mitrovic que ainda evitou que fosse pior com seu domínio na área e os gols, Babel nos meses finais…

E muitos jogadores com potencial para mais, mas perdidos entre as mudanças: Seri, Cairney, Sessegnon, Le Marchand, Odoi, Zambo Anguissa… um ano perdido para muitos jogadores de maior capacidade. A ver que vitrine terão ano que vem. E esperança à torcida com Scott Parker marcando seus primeiros passos na carreira de treinador na Championship.

20º Huddersfield — 16 pontos

Ano sofrido para o Huddersfield, que já tinha o rebaixamento selado desde as primeiras rodadas. Foi a equipe mais fraca da competição e, à medida que o torneio avançava, perdia mais a confiança. Diferença grande para os demais competidores marcou a campanha

Assim como o Cardiff, era um elenco de 2ª divisão tentando sobreviver na 1ª. No ano passado, conseguiu, em um grande trabalho do técnico David Wagner, se manter na elite. Nesta temporada, não teve a mesma sorte, também por estar numa liga mais difícil.

Até acho que poderiam ter feito mais, mas fica difícil exigir muito de um grupo tão limitado dentro de uma exigência alta assim. Claro que precisam competir dentro do que possuem, mas era difícil imaginar o Huddersfield mais um ano na Premier League assim. Diferença abissal pra maioria.

21 derrotas nos últimos 25 jogos de Premier League, pior ataque do torneio e poucos jogadores capazes de resolver jogos difíceis e/ou equilibrados. Aaron Mooy seria um deles, mas perdeu parte do ano por lesão. As mudanças na forma de jogar também não surtiram efeito…

Como no ano passado, um time bem retraído (mas que tentou jogar mais com a bola nos jogos finais), forçando ligações diretas e disputas físicas, e sem estabilidade com seus jogadores. No fim, mais rodagem e testes em um time já rebaixado. Pouco a se elogiar e críticas mais coletivas que individualizadas.

É pensar no ano q vem, com a Championship também em alta exigência para o clube, e um primeiro desafio para o técnico alemão Jan Siewert (ex-técnico do Borussia Dortmund II). Não há muito mais o que falar. Já foi um grande feito ficarem 2 anos seguidos na elite do futebol inglês com este grupo.

Opinião particular sobre a competição e as surpresas

Essa Premier League foi melhor, em nível coletivo, que as anteriores, e a que mais me deixou animado com os grandes de modo geral. Não só por terem ido longe na Liga dos Campeões e na Liga Europa, mas na própria liga nacional. O efeito dos 100 pontos do City na temporada passada parece ser positivo, afinal.

Mais times médios competindo bem, e os mais fracos quase sempre reduzidos a praticar o jogo direto. Em outros casos, alguns confrontos de identidade de jogo e mudanças de comando técnico atrapalhando, mas isso existe em todo lugar.

Destaque, também, ao que foram Pep e Klopp levando a disputa a um nível tão alto. Liverpool com 1 derrota e não foi campeão. City fazendo 198 pontos de 228 disputados, se contarmos as últimas duas edições da Premier League. É uma nova era na liga e estamos vivenciando isto

Particularmente, minha grande surpresa positiva da Premier League foi o Liverpool: não imaginava que conseguiriam rivalizar com o Manchester City a ponto de lutar por título até a última rodada — muito menos com tantos pontos. Mas já esperava que fossem a segunda força.

A maior surpresa negativa foi o Fulham, ainda que esperando que figurassem entre os dez últimos da tabela. Mas a penúltima posição, com um projeto tão falho, e sem aproveitar tantos jogadores de qualidade, muito menos um comando técnico estável, foi uma decepção muito grande.

Melhor jogador da competição

Meu melhor jogador fica entre Hazard, Sterling e van Dijk. Não consigo definir um. Hazard foi chave para o Chelsea se classificar para a Champions League e foi o jogador com maisparticipações diretas para gol nesta Premier League: 16 gols e 15 assistências. Sterling e van Dijk tiveram peso gigante em muitas conquistas de seus times.

Seleção da temporada para este que vos fala

Técnico: Jürgen Klopp

Menções: Ederson, Kepa, Alderweireld, Doherty, Capoue, Ruben Neves, Pogba, Gündogan, Moutinho, Salah, Mané, Auba e Raul Jiménez.

Seleção da temporada com jogadores fora do big six (e seus imediatos reservas)

Técnicos: Nuno Espírito Santo (Javi Gracia)

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Matheus Eduardo

Raramente (mas não nunca) posto algumas ideias aqui. A intenção é fazer essas leituras valerem a pena. Futebol em todos os sentidos possíveis.