Os 5 melhores do Brasileirão 2019, posição por posição

Matheus Eduardo
22 min readDec 10, 2019

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Foto: Reprodução/Lance!

O Brasileirão de 2019 talvez tenha sido o melhor, no formato de 20 equipes, pesando a média de qualidade dos times. Desta década, certamente foi o que mais trouxe pontos positivos — além dos recordes do Flamengo e o bom aproveitamento de Santos e Palmeiras, por consequência.

Além dos pontos coletivos, o texto aborda os destaques individuais do campeonato, sejam eles por decorrência de bons times (potencializando atletas) ou jogadores que foram a justificativa de algumas equipes se saírem melhor (ou menos pior) do que deveriam.

Sem mais enrolações, vamos à lista e a breves explicações das escolhas e critérios tomados.

Vale destacar: é um texto com opinião particular e muitos critérios próprios. Discorde, mas entenda esse ponto. A tentativa foi ser o mais coerente possível dentro das observações no campeonato.

Goleiro

Foto: Jorge R Jorge/BP Filmes
  • Tiago Volpi (São Paulo): goleiro da equipe com a melhor defesa do campeonato (30 gols sofridos em 37 partidas), um dos mais exigidos em finalizações sofridas e pilar de uma equipe com um sistema pouco confiável, especialmente em jogos grandes. Não foi raro ver partidas em que o São Paulo não foi vazado, ou sofreu menos do que poderia, por conta das intervenções do Tiago. Fundamental em boa parte dos pontos da sua equipe na competição.
  • Diego Alves (Flamengo): campeão nacional e importante em momentos duros de muitas partidas vencidas pelo Flamengo, teve relevância pouco destacada nesse sentido. Recuperou a confiança que lhe faltava desde os melhores anos no Valencia. Não o suficiente para superar Volpi, mas para merecer muitos elogios, sim (ainda mais na soma dos outros torneios de 2019).
  • Tadeu (Goiás): é verdade que o Goiás teve a pior defesa do campeonato (64 gols sofridos), mas seria MUITO pior sem a participação dele. Ter passado 10 jogos sem levar gol e ter sido tão pontual na campanha pesou para que ele entrasse na lista (esses motivos quase fizeram Jordi entrar também).
  • Weverton (Palmeiras): possivelmente, o goleiro que mais evoluiu no futebol brasileiro nos últimos cinco anos (junto com seu ex-companheiro de Athlético, Santos), passou segurança ao Palmeiras nos melhores momentos do time, e também garantiu pontos em muitas partidas complicadas. Teve a melhor média de gol sofrido por jogo (0,8) do campeonato, junto a outros de destaque na posição, como Volpi, Paulo Victor, Santos e Éverson.
  • Douglas Friedrich (Bahia): está na lista, especialmente, pela capacidade de manter atuações tão sólidas quando sua equipe é atacada constantemente. Já mostrou essas qualidades pelo Avaí e no Bahia em 2018, e foi peça-chave na boa campanha do primeiro turno. Na metade final, uma queda mais atribuída ao coletivo afetou seu ano também.

*: Menções honrosas para Jordi (CSA), Gatito Fernández (Botafogo) e Santos (Athlético/PR).

Zagueiro pela direita

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
  • Rodrigo Caio (Flamengo): recuperou todo o prestígio que havia perdido no último ano pelo São Paulo e fez um ano espetacular, não só no Brasileiro, como em qualquer competição que o Flamengo disputou. É, talvez, o melhor zagueiro brasileiro atuando dentro do país, e teve um 2019 capaz de comprovar isso. Até nos confrontos físicos (pelo alto, especialmente), ele foi destaque. E potencializou seu companheiro de zaga.
  • Gustavo Gómez (Palmeiras): nas primeiras rodadas, foi o melhor zagueiro da competição. Com a queda de rendimento do Palmeiras e as mudanças na forma de jogar (menos marcação por encaixe, mais defesa por zona e mudança de lado na zaga), teve o desempenho um pouco afetado. Não o suficiente para ser esquecido nesta lista, afinal ajudou o Palmeiras a ter uma defesa estruturada na maioria dos seus jogos.
  • Lucas Veríssimo (Santos): sua manutenção após a badalada janela do meio do ano foi importante demais para o Santos conseguir o vice-campeonato. Sua ótima noção de posicionamento fez com que Sampaoli chegasse a aproveitá-lo até como um “falso lateral-direito” e também em trio de zaga durante o torneio. Fez ano para ser ainda mais valorizado em uma possível saída para a Europa em 2020. Com a bola, melhorou muito a partir do trabalho com o treinador deste ano.
  • Robert Arboleda (São Paulo): desde o ano passado, Arboleda já era um dos destaques do futebol brasileiro entre os zagueiros. Tem alguns defeitos na concentração de um jogo inteiro e defendendo espaços mais curtos, mas sua imposição e sua velocidade seguiram como pontos diferenciais para a titularidade no São Paulo. Se encaixa muito bem como dupla de Bruno Alves (são complementares) e provaram isso pelo segundo ano consecutivo.
  • Pedro Geromel (Grêmio): apesar de ter disputado apenas 20 partidas no Brasileiro, é necessário levar em consideração que o Grêmio disputou quase metade da competição com os reservas. Enquanto esteve em campo, manteve o nível diferencial que faz dele um dos melhores da posição dentro do país. Sua adaptação ao estilo de jogo do Grêmio e ao que Renato pede não é surpresa para ninguém. Pontos importantes na recuperação do time na tabela após a eliminação da Libertadores.

*: Menções honrosas para Thiago Heleno (Athlético/PR) e Dedé (Cruzeiro).

Zagueiro pela esquerda

Foto: Reprodução/Marca
  • Pablo Marí (Flamengo): a mudança de cultura e a exigência em um projeto ambicioso (diferente do que encontrou em suas passagens na Europa, já que não chegou a atuar no Manchester City) poderiam pesar na sua adaptação, mas só ajudaram. No Brasil, deixa a impressão de que é um zagueiro muito melhor do que talvez ele seja, por contexto, por ser potencializado no sistema e por encontrar um treinador que sabe trabalhar sua parte defensiva. Encontrou o melhor cenário e o melhor parceiro de zaga para se impor. Mal chegou e é campeão do que há de mais importante aqui.
  • Victor Cuesta (Internacional): ano muito regular dentro da liga. Bem nos dois turnos e destaque até nos momentos irregulares do Inter durante e após a saída de Odair Hellmann. Também conta bastante sua capacidade técnica, a leitura de jogo e o bom tempo de bola. Outro ano de destaque e soberania. Pilar nesta equipe e indispensável nos projetos para 2020.
  • Bruno Alves (São Paulo): em 2018, talvez tenha sido esquisito ver Rodrigo Caio no banco e Bruno Alves titular no São Paulo. Ao menos para quem via sem ser torcedor. Neste ano, qualquer dúvida quanto ao crescimento do Bruno acabou. Grande nome da defesa do time nesta temporada, confiável defendendo a área e importante ao se adaptar aos diferentes estilos de jogo do time no ano (Jardine-Mancini-Cuca-Diniz).
  • Léo Pereira (Athlético/PR): desde o ano passado, já acenava para uma temporada de sucesso. Tiago Nunes lapidou, e muito, sua capacidade defensiva e o trato com a bola. Seja no lado direito da defesa (2018) ou no esquerdo (2019), sempre se impôs bem e comprova mais ainda que é um dos melhores zagueiros em potencial no país. Pode crescer bastante nos próximos anos, e a melhora do Furacão ajuda nisso.
  • Gustavo Henrique (Santos): não participou de toda a campanha do Santos, até pelas mudanças de plano de jogo de Sampaoli, e por não parecer sempre o melhor perfil para os jogos com trio de zaga. Apesar das mudanças, esteve na equipe no momento mais afirmativo do campeonato e sempre passou segurança na transição defensiva e protegendo a área. Mais uma temporada de elogios, no que acena ser seu último ano de Santos.

*: Menções honrosas para Vitor Hugo (Palmeiras) e Gabriel (Botafogo).

Lateral-direito

Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras
  • Marcos Rocha (Palmeiras): mesmo com o mau momento do Palmeiras na reta final de campeonato (e com alguns jogos que ele esteve ausente), ainda é o melhor da posição dentro dos critérios adotados devido a dois motivos. O primeiro deles é o número de partidas comparado ao Rafinha (dez partidas a mais); o segundo foi o peso do jogador nos pontos fortes da equipe, especialmente nos bons momentos: Rocha é um lateral de ótimo apoio, chegadas em velocidade, instintivo (bom em desarmes por conta disso) e que ajuda muito o seu lado de campo, especialmente no apoio.
  • Rafinha (Flamengo): sua chegada no Flamengo deixou bem clara a diferença de nível e exigência entre os times de elite no Brasil e na Europa. Mesmo mais velho e sendo um reserva no Bayern, aqui mostrou diferenças claras para a maioria, seja na parte técnica ou no entendimento geral do jogo. Importante demais no jogo exterior do time, enquanto Éverton Ribeiro jogava da direita pra dentro. Um armador vindo pelo lado. Na defesa, também soube se impor em quase todos os seus desafios.
  • Nino Paraíba (Bahia): seu primeiro turno (bem como o de todo o Bahia) foi mais surpreendente que o segundo. Como de costume, com muita potência e força para produzir jogadas na velocidade e nos duelos contra os laterais adversários — o jogo contra o Flamengo (3 x 0) é o maior exemplo. Um dos jogadores de maior confiança de Roger Machado.
  • Fagner (Corinthians): em um campeonato com poucos destaques na posição, uma temporada regular ou menos que isso do Fagner já é suficiente para figurar entre os cinco melhores do torneio. Nem mesmo a melhora de nível na lateral-direita a partir de julho (Juanfran, Daniel Alves e Rafinha) fez com que isso mudasse. Equilibrado e garantindo segurança no melhor lado de jogo do Corinthians.
  • Madson (Athlético/PR): grande segundo turno do lateral do Furacão. Destaque nos apoios e nos gols marcados (cinco, no total) na competição, e também em como melhorou a velocidade do lado direito do Athlético na competição. O sistema de jogo o possibilitou ter muita autonomia chegando à frente e fazer o que melhor sabe: apoio e gols/assistências pra finalização.

*: Mençoes honrosas para Yago Pikachu (Vasco da Gama) — virou lateral durante o campeonato, Tinga (Fortaleza), Orejuela (Cruzeiro) e Juanfran (São Paulo).

Lateral-esquerdo

Foto: Ivan Storti/Santos
  • Jorge (Santos): viveu uma recuperação de prestígio e confiança enorme com Sampaoli. Sua convocação para a seleção principal simbolizou isso. Fez um campeonato de destaque maior no ataque e na tomada de decisão na parte final do campo. Também foi uma espécie de “curinga” para Sampaoli com diferentes planos de jogo: como zagueiro em trio; como meio-campista em 3–4–3… sempre bem na parte associativa, ajudando os companheiros no passe e no apoio. Ainda deixa dúvidas na parte defensiva, mas foi o mais efetivo da posição dentro do Brasileiro.
  • Filipe Luís (Flamengo): embora seja, disparado, o melhor da posição atuando no país, Filipe não se consolidou como melhor do campeonato pelas poucas partidas disputadas. Diferencial absurdo dentro da forma de jogar do Flamengo e, finalmente, com qualquer dúvida sanada sobre ser um lateral de ótimo apoio, passe e entendimento de como fazer as jogadas funcionarem. Jamais ouviremos a mídia enaltecer que Filipe Luís é um lateral defensivo. Se estivesse na equipe desde o começo, e não precisasse ficar alguns jogos de fora, certamente seria, de forma unânime, o melhor lateral-esquerdo do torneio.
  • Caio Henrique (Fluminense): sua adaptação à lateral foi uma das gratas surpresas da temporada, talvez o grande feito de Fernando Diniz em 2019. Pela capacidade de construir, lembra um pouco o Filipe quando traz a bola para dentro e busca a solução mais racional para chegar ao ataque. Tem potencial para melhorar, especialmente na defesa e na profundidade, pontos mais naturais de um lateral de origem. Pesou a ele a falta de uma equipe mais competitiva para provar mais o seu futebol.
  • Reinaldo (São Paulo): muito já foi dito sobre Reinaldo não ser um bom defensor, e a atual temporada diminuiu um pouco esse tipo de crítica. O fato de o São Paulo ter a melhor defesa também está relacionado a uma evolução do seu lateral-esquerdo, que já era ótimo no apoio, e passou a ser mais efetivo nas duas fases do jogo. Nos apoios, Reinaldo dispensa comentários: sempre protagonista na bola parada e na velocidade, embora falte um ponta para ajudá-lo da melhor maneira.
  • Renê (Flamengo): ter dois jogadores do mesmo time no top-5 é um tanto estranho, mas ajuda a explicar o motivo de Filipe não ser o 1º — seu reserva também pediu passagem. Renê foi bastante exigido durante o ano e correspondeu quando esteve em campo. Também é um lateral de bom apoio e que defende de forma razoável. Antes de 2019, já havia sido um dos melhores (talvez o melhor) da posição enquanto jogador do Sport. O título do Flamengo também teve participação dele.

*: Menções honrosas para Bruno Pacheco (Chapecoense) e Márcio Azevedo (Athlético/PR)

Primeiro volante

Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras
  • Felipe Melo (Palmeiras): assim como em 2018, o volante com maior destaque entre desarmes + passe de qualidade da competição, com muita imposição e importância dentro do jogo do Palmeiras. Também traz em seu “kit” os muitos cartões e as faltas que complicam o jogo, mas tudo isso ligado às características do jogador, e não o tornou inferior aos outros na posição. Sua ausência em algumas rodadas tornou o Palmeiras menos intenso na defesa.
  • Willian Arão (Flamengo): a chegada de Jorge Jesus causou vários impactos positivos nos jogadores do Flamengo, mas nenhum foi tão beneficiado quanto Willian Arão. Desde o Botafogo, ele sempre foi destaque por saber trabalhar o primeiro passe, mas nunca conseguiu ser diferencial assim pelo Flamengo. A reconstrução do time com o técnico português passou por ver em Arão a peça que faltou no time, e que muitos esperavam que fosse Cuéllar. O 5 rubro-negro também foi um jogador importante na bola aérea e controlando as saídas de bola da equipe. Possivelmente, o maior caso de “volta por cima” da temporada.
  • Wellington (Athlético/PR): também traz um bom exemplo de “volta por cima”. Sempre foi um meio-campista de boa capacidade técnica, mas que não tinha um entorno que o ajudasse no primeiro passe. Com Tiago Nunes, desde o ano passado, ganhou importância maior nessa função, e teve confiança para trabalhar com mais qualidade a saída de bola e as retomadas. Apesar dos muitos cartões amarelos na competição (12; só Marinho levou mais), foi peça-chave na campanha do Athlético, além de ser o 4º que mais atuou (em minutos) na equipe pelo Brasileirão.
  • Diego Pituca (Santos): ganhou relevância numa função diferente com Jorge Sampaoli durante o ano. Geralmente no 4–3–3 como primeiro homem de meio, com maiores responsabilidades na saída e no combate/pressão sem a bola, Pituca foi um dos jogadores mais confiáveis do Santos no ano. Também alternou partidas como meio-campista interior, mais avançado, e com foco grande nas retomadas de bola.
  • Juninho (Fortaleza): nem sempre primeiro homem de meio, foi, talvez, o melhor jogador do Fortaleza na temporada. Peça-chave para Rogério Ceni, especialmente no passe longo e na alta capacidade de ligar defesa-ataque, também foi muito efetivo em gols/assistências (9 participações diretas para gol no campeonato). Simboliza o crescimento de uma equipe com ideias fortes e próprias de jogo.

*: Menções honrosas para Gregore (Bahia), Maicon (Grêmio), Rodrigo Lindoso (Internacional), Allan (Fluminense) e Jair (Atlético/MG)

Segundo volante

Foto: Guito Moreto/Ag. O Globo
  • Gerson (Flamengo): sua volta para o Brasil não poderia ser melhor. Na Itália, teve dificuldades para atuar em uma posição mais recuada do campo, mas foi exatamente nessa posição que Jorge Jesus extraiu mais do seu potencial. Sempre guiado pela bola (ele ia onde ela estava), foi o jogador mais instintivo e onipresente do Flamengo nas partidas, e sua dinâmica tornou os jogos diferentes. Muita força física e velocidade para executar bem as funções, com uma parte técnica que só ele conseguiu apresentar em nível tão alto durante o campeonato. Vapo Vapo.
  • Bruno Guimarães (Athlético/PR): quase uma unanimidade na posição até a chegada do Gerson, o interior do Athlético só não foi ainda mais elogiado no Brasileiro porque o seu time optou por utilizar reservas em muitas rodadas. Bruno Guimarães é, assim como Matheus Henrique e Arthur, o futuro do Brasil nessa posição/função de ritmista. Conecta o ataque a defesa com uma facilidade absurda, e segue apresentando características (condução, passe, visão, velocidade de execução) para fazer seu nome na Europa.
  • Bruno Henrique (Palmeiras): artilheiro do Palmeiras (10 gols) pela capacidade de infiltração que possui, não foi só isso o que credenciou Bruno Henrique a estar na lista. Mesmo nos momentos ruins do time, foi destaque na ligação defesa-ataque e o expoente da equipe na parte física (sobretudo no estilo de jogo do Felipão, no começo do torneio, e nas rodadas finais, com tanto desgaste). Outra temporada de elogios, mesmo com os problemas extra-campo (perseguição da torcida) que atrapalharam sua vida.
  • Matheus Henrique (Grêmio): a cada semana, Matheus Henrique parece ser mais que um “Arthur 2.0”. É até mais rápido e ofensivo que o meio-campista do Barcelona, e se adaptou mais facilmente ao trabalho e ao estilo de jogo do Renato. Pelas limitações do Brasileirão do Grêmio (muitos jogos com time alternativo), a avaliação fica um pouco restrita, mas deixou muitas partidas de domínio, seja pelo volume de jogo ou pela rapidez e facilidade para executar jogadas. Dupla perfeita para o Maicon. Também é o futuro do Brasil na função que exerce.
  • Edenílson (Internacional): essencial no trabalho de Odair Hellmann no Inter, especialmente pela sua capacidade física, Edenílson foi um dos melhores jogadores do time na temporada como todo, tendo destaque nos torneios mata-mata e no 1º turno do Brasileiro. Muitas jogadas de velocidade e de “vai e volta” no campo. O pulmão do time e uma alternativa cada vez mais utilizada em partidas difíceis e de planos mais reativos. Tem um pouco do estilo do Gerson em seu jogo, pela capacidade de estar em qualquer canto, e pode ser ainda mais efetivo em um time (eventualmente) treinado por Eduardo Coudet em 2020.

*: Menções honrosas para Léo Sena (Goiás), Ricardinho (Ceará), Júnior Urso (Corinthians) e Éderson (Cruzeiro)

Meia ofensivo

Foto: Celso Pupo/Estadão Conteúdo
  • Arrascaeta (Flamengo): difícil estabelecer uma posição fixa para o Arrascaeta — já atuou como meia mais à esquerda no 4–2–2–2, mas também como “10”, que é sua posição de origem (e o critério usado para qualificá-lo aqui). Certamente, o jogador mais produtivo do campeonato, com 27 participações diretas para gol (13 gols e 14 assistências) e pouco mais que um turno de liga disputado. Nem sempre está no jogo, mas gera chances quando está. Sua efetividade (já digo, há alguns anos, que é o melhor jogador do futebol brasileiro no terço final de campo) deixou claro que o Flamengo tem as melhores opções ofensivas possíveis, e isso resolveu vários jogos na campanha.
  • Carlos Sánchez (Santos): disputou boa parte do Brasileiro como um interior pela direita no 4–3–3, mas não achei justo qualificá-lo como segundo volante. É um jogador mais ofensivo (às vezes, até um ponta direito), e deixou seus melhores momentos no campeonato assim. Dono da bola parada no Santos e das melhores chances criadas, foi o melhor jogador do time da Vila Belmiro no campeonato e, também, quem controlava o ritmo e a velocidade dos ataques, especialmente nos jogos em casa. Seu primeiro ano completo no Brasil foi um sucesso.
  • Daniel Alves (São Paulo): variou entre a ponta direita e o meio-campo em quase todos os jogos, exceto as raríssimas exceções de atuar mesmo como lateral. Foi o jogador com mais passes para finalização (por jogo) no campeonato e, naturalmente, é um jogador que cria muitas chances e se integra bem com os companheiros. O natural era estar entre os destaques, mesmo em um time desorganizado e sem tanta competitividade. Mesmo tendo jogado só metade do campeonato.
  • Cazares (Atlético/MG): mesmo sendo um dos jogadores mais criativos do campeonato, teve pouco evidenciada essa virtude. O melhor jogador do Atlético/MG no campeonato e na temporada, mas que sofreu (como em anos anteriores) com as irregularidades e as mudanças de comando técnico no clube em outro ano. Assustador que tenha dado 69 passes para finalização no campeonato e só uma tenha virado gol. Dos listados, é quem melhor se encaixa na posição de “camisa 10”.
  • Thiago Galhardo (Ceará): está na lista mais pela efetividade do que pelo futebol jogado. Seus gols foram muito importantes para os (poucos) pontos do Ceará, que fizeram o clube não ser rebaixado. Muitas vezes como falso 9 em um time sem centroavante de ofício, mas também como 10 de chegada para encontrar gols. Especialmente no 1º turno, Thiago Galhardo teve destaque, e foi um dos pontos positivos no trabalho com Enderson Moreira.

*: Menções honrosas para Nikão (Athlético/PR), D’Alessandro (Internacional), Reinier (Flamengo), Jonathan Gómez (CSA) e Jean Pyerre (Grêmio)

Ponta direito

Foto: Alexandre Durão/Globo Esporte
  • Éverton Ribeiro (Flamengo): regularidade muito alta e um compilado de boas atuações no campeonato. Antes e depois de Jorge Jesus. Há um ou dois anos, diríamos muito que foi um grande “ponta construtor” durante toda a temporada, e foram características suas jogadas vindo da direita para dentro e organizando o jogo do Flamengo. Individualmente, um dos melhores jogadores do campeonato (talvez o melhor). Diferencial e peça-chave no seu 3º título brasileiro em toda a carreira. Não com os números mais chamativos, mas com as atuações mais regulares e um ritmo de jogo que não cessou.
  • Dudu (Palmeiras): devido à queda de rendimento coletiva do Palmeiras, em muitos momentos a temporada do Dudu também acabou muito subvalorizada. Como em anos anteriores, foi o destaque da equipe e quem mais encontrou soluções (devido ao talento puro) para ganhar pontos para sua equipe. Neste ano, mais à direita e tendo liberdade para algumas trocas de posição com os outros homens de ataque. Fechou o ano como falso nove, e deixando gols nas partidas finais. É o cara do Palmeiras e não pode ser esquecido.
  • Alisson (Grêmio): durante o Brasileiro, foi quase tão importante quanto Éverton nas partidas da equipe. Muito diferencial no 1x1 e nas parcerias com os atacantes, deu nova cara ao perfil de ponta direito de Renato Portaluppi. Se antes víamos um Ramiro mais trancado e vindo para dentro por ser meio-campista de origem, com Alisson-Everton vimos um Grêmio mais agudo e incisivo pelos dois lados do campo, aproximando mais os talentos e acelerando mais. A melhor versão disso foi o resultado das melhores rodadas do Grêmio, e algumas goleadas que deixaram a dúvida no ar sobre o que seria esta equipe completa em quase toda a competição.
  • Pedrinho (Corinthians): até o começo dessa temporada, havia uma dúvida muito grande sobre qual rumo a carreira dele tomaria, especialmente porque era um jogador pouco produtivo na conclusão de jogadas e nos dribles. Tendo um ano completo e um time repleto de problemas, Pedrinho foi quem mais se desenvolveu no Corinthians em 2019 (ainda mais quando levamos em conta seu Torneio de Toulon, no meio do ano, com a seleção olímpica). Virou uma ameaça plena pela direita (e até por dentro), e um ponta mais driblador e finalizador, tendo confiança para isso.
  • Marinho (Santos): o jogador de lado de campo ideal para Jorge Sampaoli. Muito adaptável ao ataque posicional e às situações de 1x1 na beirada, além de ser canhoto e ter como jogada característica o corte para dentro na finalização, encaixou bastante com o time santista. Seus 8 gols e 4 assistências no campeonato foram, quase todos, em combinações de jogadas velozes e um comportamento típico de ponta driblador, que Marinho é, terminando em chutes como o do seu “minimíssil aleatório”. A peça que faltava no ataque santista, com as correções e o encaixe perfeito a partir de junho.

*: Menções honrosas para Antony (São Paulo), Marcelo Cirino (Athlético/PR) e Artur (Bahia)

Ponta esquerdo

Foto: Antonio Scorza/Ag. O Globo
  • Bruno Henrique (Flamengo): embora tenha sido mais um segundo atacante que um ponta durante o Brasileiro, adotei o mesmo critério que o usado para o Arrascaeta — posição de origem. Bruno Henrique foi, além de uma solução para N situações ofensivas do Flamengo, quem decidiu muitas partidas “grandes”. A temporada 2019 trouxe sua versão mais decisiva e um atacante que complementou Gabigol, Arrascaeta e Éverton Ribeiro de forma perfeita: muitos desmarques, velocidade e intuição para saber onde estar para marcar os gols. 21 gols na competição, e só não foi artilheiro porque havia Gabriel.
  • Éverton Cebolinha (Grêmio): seu maior hype foi durante a Copa América, mas o Brasileiro também foi muito bom e com grande efetividade: 11 gols na competição e muitos jogos infernizando adversários em dribles e conclusão de jogadas. Atuar com Tardelli, Jean Pyerre, Luan, Pepê ou Alisson, em um ataque de tanta mobilidade, foi melhor para ativar o melhor do Éverton entrando para finalizar e sendo mais efetivo que em anos anteriores. Um dos melhores (talvez o melhor) pontas atuando no país. Será surpresa se continuar por aqui em 2020.
  • Soteldo (Santos): uma das maiores revelações no continente nos últimos anos, importantíssimo para Jorge Sampaoli. Oscilou bastante durante o campeonato, mas deixou uma marca positiva pensando no ano todo. Não é um simples ponta de (muito) drible, mas também deixa boas possibilidades quando tem um pouco mais de liberdade e um lateral que entende seus movimentos (Jorge-Soteldo foi uma arma letal durante 2019). Deixou a impressão de que poderia fazer ainda mais com uma equipe um pouco mais criativa e qualificada.
  • Michael (Goiás): lembra muito a versão 2015 do Bruno Henrique, no mesmo Goiás, e também sem fazer categoria de base. Esteve em um time que explorou tudo e mais um pouco do seu talento e da sua confiança. Talvez, a maior virtude do trabalho do Ney Franco tenha sido explorar toda a qualidade do Michael e os pontos que isso rendeu ao time no campeonato. Deixa algumas dúvidas sobre como renderia em uma equipe mais exigente e competitiva, obrigando-o a defender mais, mas é uma boa solução para transformar jogadas em gols — ainda mais em cenário de contragolpe.
  • Rony (Athlético/PR): 6 gols e 8 assistências no campeonato. Entre os homens de frente, o principal destaque do Athlético no campeonato e na temporada. Melhorou muito a sua definição de jogadas, e sempre foi muito talentoso em condução de bola. No Furacão, com tanto volume de jogo, velocidade e foco nos pontas pelos extremos, no duelo, Rony tem o melhor contexto possível para jogar e criar. A bola chega e as chances aparecem. Já está em ascensão desde a Sul-Americana do ano passado, e segue em alto nível.

*: Menções honrosas para Yony González (Fluminense), Otero (Atlético/MG), Pepê (Grêmio), Osvaldo (Fortaleza) e Zé Rafael (Palmeiras)

Atacante de referência

Foto: André Durão/GE.com
  • Gabriel “Gabigol” (Flamengo): artilheiro do Brasileiro pela segunda edição seguida, deixou claro que o nível dele é para ser elite no Brasil e para reconquistar espaço na Europa, caso queira. Precisa de “pouco” para gerar perigo e gosta de jogar sem ser, exatamente, a referência. É um “9 que não é 9", e se sente mais cômodo jogando assim. Se move, corre, desmarca e chega na área. Nessa temporada, também um grande assistente (8 passes para gol no campeonato). Se entende muito bem com Bruno Henrique e tem a “intuição” para trabalhar bem nesse ataque montado pelo Flamengo. Artilheiro que não se limita só a jogar na área, e que é bem mais que um centroavante. Bateu o recorde de gols em uma só edição de Brasileiro (com 20 times) porque é um atacante diferente da maioria.
  • Everaldo (Chapecoense): impressionante que, mesmo jogando em uma das piores equipes do campeonato, Everaldo tenha deixado tantos gols (13 dos 31 que seu time marcou em todo o Brasileiro). Efetivo e comprovando qualidade pela segunda edição diferente. Já havia feito bons jogos com o Atlético/GO em 2017. Está na lista porque fez mais com menos, e porque a competição na posição não é das mais ferozes.
  • Gilberto (Bahia): artilheiro dos “momentos de ouro” do Bahia no campeonato. Bem como Nino Paraíba e Douglas Friedrich, os outros dois do time citados aqui, teve seus grandes momentos antes de o Tricolor Baiano derrocar na tabela com o péssimo 2º turno. Ainda assim, deixou muitos gols (14) e só ficou atrás da dupla do Flamengo na artilharia. Teve grandes momentos, como o hat-trick contra o mesmo Fla no 1º turno, e os 2 gols diante do Palmeiras em pleno Allianz Parque. Entre os centroavantes de ofício do campeonato, foi o que mais ofereceu ameaça nos grandes jogos dentro do campeonato.
  • Eduardo Sasha (Santos): temporada mais artilheira da carreira e tirando muito proveito das vantagens do ataque com Sampaoli. Mais um dos tantos potencializados com o técnico argentino. Mesmo com suas limitações (técnicas, táticas…) produziu gols e pontos para o Santos, e supriu, ao menos em partes, a carência do time com um “9” propriamente dito. Sasha aprendeu a ser um pouco mais centroavante na Vila Belmiro, e suas características um pouco mais móveis até ajudaram. Para mim, a grande surpresa do campeonato (em números e com um time que rendeu mais que o esperado)
  • Paolo Guerrero (Internacional): Zé Ricardo conseguiu aproveitar poucas coisas no time, e Guerrero foi uma delas. Já haviam trabalhado juntos no Flamengo. Para este que aqui fala, Paolo é o melhor centroavante (da posição) atuando na América do Sul. Nem sempre convertendo todo o seu jogo em gols, mas marcando em momentos importantes e potencializando quem está no seu entorno. Tem apoio, passe, finalização, pivô e físico que engana. Não aparenta estar com 35 anos. Fundamental nas rodadas finais para garantir o Colorado na próxima Libertadores (nem que seja na fase preliminar).

*: Menções honrosas para Wellington Paulista (Fortaleza), Mauro Boselli (Corinthians) e Rafael Moura (Goiás)

Treinador

Foto: André Durão/GE.com
  • Jorge Jesus (Flamengo): disparado, o melhor trabalho da temporada. Pegou um elenco ambicioso e tornou, na prática, o que era esperado na teoria (algo que não é simples). Porque tem capacidade para isso e já provou nos anos de Benfica e Sporting. Entendendo seus jogadores, encorajando-lhes a desempenhar papéis que nunca haviam desempenhado, tendo coragem e força para jogar semana a semana (e até duas vezes na semana) com o mesmo ritmo. É diferente do que quase todos fazem, mas precisamos respeitar o contexto e a qualidade acima da média do “Mister”. Não é à toa que bateu tantos recordes com o Flamengo.
  • Jorge Sampaoli (Santos): se falamos que Jorge Jesus é bem acima da média, Sampaoli também é. Junto com Renato, o único treinador a durar um ano inteiro em um mesmo clube no Brasil, vindo de outra cultura, e remontando o estilo de jogo de um elenco. Fez o Santos ir além do esperado, e poderia ser campeão se não houvesse um adversário tão fora de série na sua frente. O maior “case de sucesso” dos conceitos do jogo de posição por aqui.
  • Renato Portaluppi (Grêmio): dono do trabalho mais duradouro de um treinador em um clube de Série A, mantendo bons mecanismos no ataque e renovando outros. Bom trabalho no ano, mesmo não tendo focado toda a temporada na liga, e com jogadores que corresponderam às exigências do comando técnico em muitos momentos. Além dos pontos já conhecidos da velocidade do jogo gremista, a intensidade marcando por encaixe e os tantos talentos, impressiona como um elenco com tanta gente mais velha pode manter um ritmo tão alto.
  • Tiago Nunes-Eduardo Barros (Athlético/PR): representam um projeto a médio-longo prazo que vinga/vingou. Levaram a sério o Brasileiro e chegaram muito longe dando continuidade ao que deu certo ano passado. É gratificante ver o que fizeram com tantos jogadores em crescimento.
  • Rogério Ceni (Fortaleza): merece destaque pela evolução com o clube desde o título da Série B em 2018. Mesmo com a mancha que foi a passagem pelo Cruzeiro (não por culpa dele), sua volta ao Fortaleza foi do mesmo tamanho que sua passagem antes de sair. Representa a crença em um projeto que, com as peças do destino, funcionou. E acertou na continuidade de trabalho, que é tão raro (quando funciona) no país.
  • : Menções honrosas para Vanderlei Luxemburgo (Vasco da Gama), Luiz Felipe Scolari (começo de campanha com o Palmeiras), Roger Machado (Bahia), Eduardo Barroca (Botafogo) e Ney Franco (Goiás).

Dados: WhoScored, Soccerway e SofaScore

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Matheus Eduardo

Raramente (mas não nunca) posto algumas ideias aqui. A intenção é fazer essas leituras valerem a pena. Futebol em todos os sentidos possíveis.